Viver na presença de Deus

Viver na presença de Deus

Quando alguém nos faz uma pergunta, tentamos transmitir ao máximo o que sabemos. Entretanto, há algo que muitas vezes nos deixa com dúvidas e com dificuldade de explicitar: falar a respeito de Deus. Quanto mais nos aprofundamos sobre o assunto, mais interrogações surgem.

Recorrendo as Sagradas Escrituras, onde está contida toda palavra revelada pelo próprio Deus, encontramos o episódio da sarça ardente em que Deus se revela a Moisés dizendo: “Eu sou aquele que Sou” (Ex. 3, 4). Contudo, esta resposta do próprio Deus nos deixa pensativos. Apelando aos doutores da Igreja, encontramos o que nos ensina Santo Tomás a respeito dessa frase: que Deus sempre foi, é e sempre será.

No entanto, nossa natureza humana não se contenta somente com essa explicação e e tenta aprofundar um pouco mais. De fato, quando tomamos conhecimento que algo existe, sentimos uma lógica curiosidade em saber quem é ou o que é. Todavia, bem sabemos que Deus é um Ser infinito, ao qual não conseguimos atribuir nenhuma qualidade, e que, para conhecê-lo, podemos fazê-la de duas formas: uma pela via negativa, ou seja, dizendo tudo aquilo que Ele não é, e pela via das afirmações, atribuindo-Lhe as perfeições das criaturas. E da posse de todos os bens, resultam os atributos de Deus que Santo Tomás expõe na Suma Teológica:

Pode-se demonstrar como Deus não é, afastando dele o que não lhe pode convir, como: ser composto, estar em movimento, etc., Assim, pergunte-se primeiro sobre a simplicidade de Deus, pela dele se exclui a composição. Como, por exemplo, nas coisas corporais, as simples são as menos perfeitas e fazem parte das outras, pergunte-se em segundo, sobre sua perfeição; em terceiro, sobre sua infinidade; em quarto, sobre sua imutabilidade; e em quinto, sobre sua unidade.1 Estando agora um pouco mais entrosados no assunto, detenhamos-nos em um de seus atributos, que é a imensidade divina.

Imensidade de Deus

Um dos atributos essenciais de Deus é a imensidade: Deus está realmente presente em todas as partes e em todas as coisas, sem que possa existir lugar ou criatura alguma onde não se encontra Deus. É o que nos diz o Salmista: “Para onde irei para longe do teu espírito”? Para onde fugirei da tua presença? Se eu subo ao céu, lá estás, se desço ao abismo, aí te encontro.” (Si 138,7). Ele está presente em todas as partes, porém, não Se deixa ver em todo lugar; somente no Céu. Apenas na Visão Beatífica Ele Se manifesta face a face aos bem-aventurados.2

Devemos “entender” esse atributo de Deus, como propriamente nos sugere o nome imenso: que abarca tudo e contém em si todas as coisas. Nenhum ser existe nem poderá existir sem que Deus esteja intimamente presente nele por essência (dando o ser que tem), por presença, (permanecendo sempre ante o seu divino olhar) e por potência (submetido inteiramente ao seu divino poder). Ele é aquele que por si só subsiste e sustenta os demais.

Cabe-nos, porém, tomar cuidado e não nos deixar levar por uma ideia panteísta, vendo uma partícula de Deus em todo o criado; mas sim, estar conscientes de que é Deus que tudo sustenta. Realmente, face a todas as maravilhas da criação, ficamos deslumbrados com tanto amor, perfeição e sabedoria com que tudo foi criado. Muitas vezes, Deus se serve de meios aparentemente sem importância para a salvação do homem. Recordemos um fato narrado em uma pregação do padre Raniero Cantalamessa 3 ocorrido com o soldado Aleksander Zacepa, morto na Segunda Grande Guerra.

Estando ele à noite, dentro da trincheira, em meio ao soar das armas bélicas, preparando-se para o ataque contra os inimigos, deparou-se com um luminoso céu estrelado. Comovido com tamanha grandeza e pulcritude, sentiu em si algo que lhe comovia, fazendo-o refletir sobre aquilo que estava diante de seus olhos. Escreveu, então, uma carta, que foi encontrada em meio ao campo de batalha onde estava este soldado. Estas são as comovedoras palavras do guerreiro:

Escuta, ó Deus! Em minha vida não falei nem uma só vez contigo, mas hoje tenho vontade de fazer festa. Desde pequeno me disseram sempre que Tu não existes… E eu, como um idiota, acreditei. Nunca contemplei tuas obras, mas esta noitevi, desde a cratera de uma granada, o céu cheio de estrelas e fiquei fascinado por seu resplendor. Nesse instante compreendi que terrível é o engano… Não sei, ó Deus, se me darás tua mão, mas Te digo que Tu me entendes…

Fonte: Arautos do Evangelho

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